Um noite vazia, um ser desperto, confissões do espírito suspensas na brisa.
A lua e as estrelas, minhas únicas cúmplices.
O mundo prossegue o seu curso, indiferente, meramente como se eu não existisse.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O meu inimigo

Lá estava ele novamente. Persegue-me todos os dias, sem cessar.
Ergo o olhar e vejo-o nitidamente à minha frente. Tão nítido que se torna real. Observa-me com o mesmo olhar intenso e desafiador que eu lhe lanço. Saúdo-o com um leve aceno de cabeça e ele retribuí-me o gesto em simultâneo. Sinto o seu olhar de desafio, igual ao meu, penetrante e confiante, e assim são vestidas as armaduras e desembainhadas as espadas, para a guerra que travamos todos os dias, naquela arena que se foi degradando ao longo dos anos, devido a estas intensas e constantes batalhas.
Erguemos as espadas, a minha velha e enferrujada e a dele, leve e reluzente. Com este sinal a mítica batalha toma início e arena geme, amedrontada. Esta está quase a ceder. Um antigo descampado queimado pelo Sol e consumida pela tempestade, coberto por um manto cinzento.
Todas estas guerras deixaram-me cansada e os meus movimentos tornaram-se mais lentos e fracos, enquanto os dele são ágeis e precisos.
Começa a chover torrencialmente e a terra seca e desgastada, abre-se por baixo dos meus pés. Vacilo e aproveitando a minha distracção, ele empurra-me. Caio naquela terra impenetrável pela chuva e a minha espada foge-me das mãos, afastando-se.
A espada dele ergue-se sobre mim. A qualquer momento seria o fim daquela antiga batalha.
Olho-o mais uma vez e quase me reconheço. A única diferença entre nós é que eu tenho medo e ele apresenta uma expressão rígida e amarga. Afinal, eu sou o meu próprio inimigo. Velho e mítico inimigo.
De repente, vejo uma fusão de luz branca. Será a morte, ou um ínfimo sobrevivente de esperança?

2 comentários:

Shell disse...

Linda forma de escrever *.*

Lira disse...

Obrigada!!! =D Ainda bm que gostas!