Um noite vazia, um ser desperto, confissões do espírito suspensas na brisa.
A lua e as estrelas, minhas únicas cúmplices.
O mundo prossegue o seu curso, indiferente, meramente como se eu não existisse.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Mundo perdido


O beijo do vento roçou os rostos ocultos nas profundezas da vegetação, perdidos algures no mundo invisível que o homem parece não querer ver.
O vento é um eterno viajante que atravessa as terras perdidas sem receio, pois é livre e eterno. Com ele leva mensagens de esperança ou avisos de perigo.
Por vezes recados do mundo natural atingem o mundo civilizado, chamando os mais audazes e destemidos a visitá-lo. A deixar por momentos o mundo isolado do ser humano e penetrar nas profundezas do esquecido.
Um dos chamados fui eu. Chamada pelo vento e atraída para o desconhecido.
Nas terras perdidas senti-me uma intrusa. Num meio perfeito e puro, tão complexo e tão simples como um sonho de criança. Em equilíbrio.
Os seres escondidos na vegetação aproximaram-se num gesto curioso e miraram-me como uma estranha criatura vinda de outro mundo. Apesar de não me reconhecerem eu era sua irmã. Como todos os homens são irmãos de todos os seres vivos. Todos nós descendentes de um antepassado comum e agora tão distintos que nem nos reconhecemos.
Inspirei as essências do mundo perdido e o meu corpo levitou com a força do vento que arrastava consigo palavras da natureza para mim. Ouvia inúmeras vozes que se confundiam num turbilhão de sons harmoniosos e todas elas diziam num sussurro:
"Bem-vinda a casa..."

domingo, 19 de abril de 2009

The moon


The moon looks at me at nigth,
like the sun looks at me at day.
Always careful
always worried.
Attentive to my steps,
attentive to my gestures,
following my walk,
spying my words,
listening to my fears and anxieties,
saving all my joys.
I know that she will always be there,
protecting me from the dangers of the night,
the evil around me.
Protects me like I was her friend,
like I was her sister...

sábado, 18 de abril de 2009

O tempo não espera


Um dia, depois outro e mais outro…
O tempo não espera por ninguém e os ponteiros da minha existência continuam a girar numa dança interminável. Rodopiando em círculos sucessivos, contando cada segundo que desperdiço e cada minuto que aproveito. Gostava de por vezes dizer: “Espera! Só mais um pouco!”, mas esta capacidade sobrenatural não me foi atribuída.
Por vezes o tempo parece escapar com uma brisa que se arrasta sobre mim, levando minutos preciosos através de uma janela aberta.
E há sempre aquelas alturas em que o chão firme que construímos parece desmoronar-se, destruindo a solidez da nossa vida, tornando-a aberta e sem rumo. Aí apercebo-me que o meu único e pior inimigo sou eu. O meu ser inimigo de si mesmo, que faz o tempo entrar em colisão dentro de mim num rodopio infernal de ponteiros.
Então deito-me e fecho os olhos… As imagens vão surgindo no meu mundo imaginário. Visto umas vestes negras e aventuro-me pela noite como um gato preto na cidade, ágil e silencioso, e trepo pelas entranhas da minha mente sempre cautelosa em busca dos meus fantasmas algures escondidos em recantos longínquos de lembranças passadas ou em medos futuros. Aproximo-me apurando os meus sentidos e liberto instintos outrora esquecidos.
Porque quando fecho os olhos posso ser o que quiser e os meus fantasmas nunca passarão de fantasmas.
E aí o tempo para… só aí… para eu poder ser eu mesma…

sexta-feira, 17 de abril de 2009

O caminho da razão


O caminho da razão é um longo percurso pelos matos selvagens da existência, um caminho entre as árvores da sabedoria popular, supersticiosa e lendária. Um rumo sem fim entrelaçado e confuso onde é possível um ignorante perder-se entre a beleza das flores mais exóticas, fonte de distracção e de engano. E se não forem as flores de múltiplas cores e odores aliciantes, são as silvas com os seus espinhos aguçados que deterão aquele que ambicione a razão.
Quem sabe se não será apenas o canto enganador dos pássaros alheios e inoportunos que fará tropeçar o mais valente dos aventureiros.
Muitos são aqueles que ousam entrar no caminho da razão, alcançar a fonte da sabedoria e as respostas a todas as perguntas do ser humano. As questões que a ciência não pode explicar e que geram uma torrente de ideias absurdas e supersticiosas na mente de um ser pensante. Contudo ainda nenhum ser sensível e racional atravessou os perigos escondidos entre as árvores e arbustos traiçoeiros.
Nem o mais bravo e mais valente pode resistir às tentações do mundo e evitar perder o rasto ao caminho da razão.
Todo o conhecimento é demasiado para um homem só e por isso o caminho da razão continua a alimentar as esperanças dos mais ambiciosos, mas sempre será um mito ou lenda. Um caminho perdido algures no meio do mato com um destino infinito.
E nem o mais bravo. Nem o mais bravo pode alcançá-lo.