Um noite vazia, um ser desperto, confissões do espírito suspensas na brisa.
A lua e as estrelas, minhas únicas cúmplices.
O mundo prossegue o seu curso, indiferente, meramente como se eu não existisse.

segunda-feira, 9 de março de 2009

A World


I dreamt with a world of light
A world of hope
A world of creativity
A world of stories and memories
A world of choices and goals
A world of legends and myths
A world of wise and ignorance
Where you exchange glances, words and gestures
Amazements, mysteries and secrets
Cries, tears and smiles
A world where you give the arm and not the hand
A world that was built step to step

And in the end, I discovered that this world was our ...
… but sometimes we don’t recognize it

sábado, 7 de março de 2009

Estabilidade


Com as mãos cansadas e sem energia retirei um pouco de areia das dunas. Abri a palma da mão e os grãos dispersaram, arrastados pela brisa num dos seus trajectos pela praia.
Um súbito sopro gélido causo-me arrepios e abracei o meu corpo. O vento intenso agitava-me os cabelos cortando-me a visão sobre o mar que o acompanhava, turbulento e monstruoso, lançando para terra gigantescas ondas claras, como na tentativa de afastar potenciais inimigos das águas. Mantive-me firme perante aquelas ameaças, pedindo em simultâneo para que um pouco de calor me encorajasse a não desistir, sabendo perfeitamente que com a chegada da noite o frio avançaria impiedoso sobre mim.
Sentada nas dunas, junto às ervas rasteiras, concentrei o meu olhar no mar deixando-me envolver pela sua música e pelo seu cheiro a sal. O Sol escondia-se atrás das ondas pintando os céus de uma tonalidade vermelha.
Por instastes o meu pensamento divagou para um mundo oculto, no qual nos perdemos facilmente entre a verdade e a mentira. Neste mundo não alcançamos nenhuma conclusão concreta ou concisa, são tudo meras opiniões que guardamos connosco no íntimo do nosso ser.
Sabia que apesar de sozinha, escondida do mundo social, sentia-me completa. Como compensada por algo que os outros dificilmente alcançavam apesar dos seus múltiplos esforços. Sabia que existiam poucas como eu. Pessoas que atingiram a perfeição sem qualquer esforços ou buscas prolongadas. O segredo está em apreciar pequenas coisas que apesar de aparentemente parecerem insignificantes e vulgares, é nelas que reside toda a paz e perseverança que procuramos todos os dias.
Um homem vulgar tem a noção de que ter é poder, por isso o seu passatempo não é mais do que procurar, no mundo comercial, objectos que lhe agradem e confiram poder. Esse poder tem um rótulo de duração, um prazo de validade que ao ser atinguido o objecto é deixado para trás e esquecido. Isto acontece com todos os produtos do mercado. A validade alterna de produto para produto, mas o final é sempre o mesmo. Sendo assim, o homem é um “caçador” de objectos e a sua vida baseasse a isso. O problema é que os objectos não saciam a fome de estabilidade que o homem tanto procura. São apenas “aperitivos” para consular o estômago. Assim, vivemos num mundo consumista que ilude o homem e confunde a verdadeira serenidade.
Talvez seja difícil ao ser humano compreender isto, mas é na natureza que reside toda a perfeição e estabilidade e não no mundo futurista que construiu ao longo das décadas.
Agora sentada sobre a areia fria sinto que encontrei a estabilidade. Um momento que ninguém me poderia roubar, partilhado apenas com as gaivotas que procuravam restos de comida entre os grãos de areia e que por vezes tentavam acompanhar o canto do mar com as suas vozes desafinadas.
Confesso que torna-se um pouco difícil exprimir esta sensação de estabilidade. A única coisa que posso afirmar é que o tempo parece parar especialmente para nós, para que possamos guardar este momento.
Quando o Sol finalmente mergulhou nas profundezas do oceano e a noite se instalou sobre a praia, soube que era altura de partir. Ergui o meu corpo cansado e caminhei pelas dunas temendo voltar ao mundo complexo da sociedade.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Homenzinho verde


Contemplei aquela noite estrelada como uma criança cujo sonho é ser astronauta e tocar a superfície da lua, com uma forte expectativa de encontrar um pequeno homenzinho verde escondido nas crateras, sorrir-lhe gentilmente e esperar que esse sorriso sincero e modesto lhe seja retribuído. Apertar-lhe a mão fria, enquanto examina as suas antenas compridas.
Muitas crianças esperam impacientemente por este dia. O dia em que poderão desafiar as leis da física e conhecer um mundo de escuridão, onde a esperança reside no brilho cintilante das estrelas, que se aglomeram formando um mar de luz.
A noite era perfeita para observar o cosmos e as suas maravilhas. Durante o dia o Sol, com a sua luz intensa, esconde o manto de estrelas e astros que rodeiam o nosso planeta. Por vezes ainda é possível, com muita atenção e um céu limpo, avistar a lua com uma cor clara que facilita a sua camuflagem na coberta azul. Agora, devido às grandes cidades e à energia eléctrica, o brilho e encanto do cosmos perde-se. As luzes eléctricas acesas durante toda a noite são úteis, mas dispensáveis. Para além do consumo exagerado de energia, a magia de todo aquele manto de brilho é esquecido. Talvez muitas das pessoas das grandes cidades nem sequer saibam o que é de facto uma estrela. Provavelmente nunca tiveram oportunidade de se deitar sobre a erva queimada pelo Sol e apreciar o esplendor de um céu nocturno, onde podemos constatar que afinal o céu não é o limite, mas apenas o começo de um novo mundo para além da nossa imaginação.
Não sabemos o que se esconde atrás das nebulosas planetárias tão perto e ao mesmo tempo tão distantes. A sua imensidão ultrapassa-nos, escondendo dentro de si os mais profundos mistérios da vida e do mundo. Agora talvez a ideia das crianças que desejam ser astronautas e conhecer homenzinhos verdes não seja assim tão fictícia. Quem sabe o que se esconde na imensidão do cosmos? Os homenzinhos verdes, visto de esta perspectiva, já não se parecem só com um sonho. Afinal como alguns filósofos pensavam: é impossível ao homem conhecer. Compreendo aqueles que tomam esta posição. Mesmo com todo este avanço científico e tecnológico que se desenvolveu intensamente ao longo da existência humana, parece que ainda não alcançámos nem metade de todo o conhecimento que está armazenado como um tesouro de um navio afundado. É assim que vejo o conhecimento, como algo impossível de obter. Uma arca contendo um valiosíssimo tesouro pirata que se afundou juntamente com o navio numa noite assombrosa de tempestade. E mesmo que nos achemos muito inteligentes, porque sabemos isto ou aquilo, não temos de facto certeza absoluta de que o que dizemos conhecer seja verdade. Talvez um dia descubramos que todo o que existe esteja totalmente mal interpretado da nossa parte. Talvez todas as nossas certezas sejam uma fraude e uma loucura. Talvez, quem sabe? Essa é a questão. Como é que alguém pode conhecer a resposta a esta questão se o conhecimento é um tesouro afundado? Dúvidas e questões intermináveis sem qualquer resposta concreta e esclarecedora.
Abanei a cabeça de uma forma ridícula e exagerada na tentativa de abandonar o mundo das questões e voltei a concentrar-me na beleza da arquitectura da noite. Tudo tão simples e tão complexo ao mesmo tempo. Aprecio a disposição das estrelas no céu. Formando uma nuvem de pequenos pontos cintilantes dispersos aleatoriamente. Quando a examino com atenção, até sou capaz de criar linhas imaginárias na minha mente que unem os pequenos pontos formando uma imagem abstracta que apenas tem significado para mim.
Sentia o odor a relva queimada por baixo do meu corpo hirto, enquanto acompanhava os grilos e as cigarras no seu concerto nocturno, interpretando-o como uma melodia dedicada a mim. E embalada pela sua música encantadora fechei os olhos.
Sorri como se estivesse a saudar algum homenzinho verde do espaço e por momentos senti que algures, esse sorriso me estava a ser retribuído.