Um noite vazia, um ser desperto, confissões do espírito suspensas na brisa.
A lua e as estrelas, minhas únicas cúmplices.
O mundo prossegue o seu curso, indiferente, meramente como se eu não existisse.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Homenzinho verde


Contemplei aquela noite estrelada como uma criança cujo sonho é ser astronauta e tocar a superfície da lua, com uma forte expectativa de encontrar um pequeno homenzinho verde escondido nas crateras, sorrir-lhe gentilmente e esperar que esse sorriso sincero e modesto lhe seja retribuído. Apertar-lhe a mão fria, enquanto examina as suas antenas compridas.
Muitas crianças esperam impacientemente por este dia. O dia em que poderão desafiar as leis da física e conhecer um mundo de escuridão, onde a esperança reside no brilho cintilante das estrelas, que se aglomeram formando um mar de luz.
A noite era perfeita para observar o cosmos e as suas maravilhas. Durante o dia o Sol, com a sua luz intensa, esconde o manto de estrelas e astros que rodeiam o nosso planeta. Por vezes ainda é possível, com muita atenção e um céu limpo, avistar a lua com uma cor clara que facilita a sua camuflagem na coberta azul. Agora, devido às grandes cidades e à energia eléctrica, o brilho e encanto do cosmos perde-se. As luzes eléctricas acesas durante toda a noite são úteis, mas dispensáveis. Para além do consumo exagerado de energia, a magia de todo aquele manto de brilho é esquecido. Talvez muitas das pessoas das grandes cidades nem sequer saibam o que é de facto uma estrela. Provavelmente nunca tiveram oportunidade de se deitar sobre a erva queimada pelo Sol e apreciar o esplendor de um céu nocturno, onde podemos constatar que afinal o céu não é o limite, mas apenas o começo de um novo mundo para além da nossa imaginação.
Não sabemos o que se esconde atrás das nebulosas planetárias tão perto e ao mesmo tempo tão distantes. A sua imensidão ultrapassa-nos, escondendo dentro de si os mais profundos mistérios da vida e do mundo. Agora talvez a ideia das crianças que desejam ser astronautas e conhecer homenzinhos verdes não seja assim tão fictícia. Quem sabe o que se esconde na imensidão do cosmos? Os homenzinhos verdes, visto de esta perspectiva, já não se parecem só com um sonho. Afinal como alguns filósofos pensavam: é impossível ao homem conhecer. Compreendo aqueles que tomam esta posição. Mesmo com todo este avanço científico e tecnológico que se desenvolveu intensamente ao longo da existência humana, parece que ainda não alcançámos nem metade de todo o conhecimento que está armazenado como um tesouro de um navio afundado. É assim que vejo o conhecimento, como algo impossível de obter. Uma arca contendo um valiosíssimo tesouro pirata que se afundou juntamente com o navio numa noite assombrosa de tempestade. E mesmo que nos achemos muito inteligentes, porque sabemos isto ou aquilo, não temos de facto certeza absoluta de que o que dizemos conhecer seja verdade. Talvez um dia descubramos que todo o que existe esteja totalmente mal interpretado da nossa parte. Talvez todas as nossas certezas sejam uma fraude e uma loucura. Talvez, quem sabe? Essa é a questão. Como é que alguém pode conhecer a resposta a esta questão se o conhecimento é um tesouro afundado? Dúvidas e questões intermináveis sem qualquer resposta concreta e esclarecedora.
Abanei a cabeça de uma forma ridícula e exagerada na tentativa de abandonar o mundo das questões e voltei a concentrar-me na beleza da arquitectura da noite. Tudo tão simples e tão complexo ao mesmo tempo. Aprecio a disposição das estrelas no céu. Formando uma nuvem de pequenos pontos cintilantes dispersos aleatoriamente. Quando a examino com atenção, até sou capaz de criar linhas imaginárias na minha mente que unem os pequenos pontos formando uma imagem abstracta que apenas tem significado para mim.
Sentia o odor a relva queimada por baixo do meu corpo hirto, enquanto acompanhava os grilos e as cigarras no seu concerto nocturno, interpretando-o como uma melodia dedicada a mim. E embalada pela sua música encantadora fechei os olhos.
Sorri como se estivesse a saudar algum homenzinho verde do espaço e por momentos senti que algures, esse sorriso me estava a ser retribuído.

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